Como lidar com os planos inesperados?

Há uma entrevista de Rubem Alves, muito conhecida em que ele conta sobre um rapaz que o procura, para fazer uma entrevista. Ele queria saber como Rubem havia planejado a sua vida, como ele havia chegado aonde ele estava. Rubem percebeu que o jovem o admirava e relata que provavelmente aquele rapaz esperava um mapa, um caminho que fosse seguido. Mas não foi isso que aconteceu. A resposta de Rubem Alves foi: “Eu cheguei onde cheguei porque tudo que planejei deu errado.”

Quantas vezes na vida nos deparamos com os planos que dão errado e não entendemos os motivos pelos quais o que queríamos não deu certo? No meu trabalho como psicóloga clínica, muitas vezes me deparo com a dificuldade do paciente em lidar com o inesperado, uma fragilidade dos perfeccionistas.

Muitas vezes, a vida pede, para que a gente saia dos eixos. Não de desconstruir os nossos aprendizados, mas de aprender com os nossos erros. Na terapia cognitivo-comportamental, há duas perguntas essenciais para serem feitas no que se referem aos pensamentos: O que de melhor poderia acontecer neste caso? E o que de pior poderia acontecer?

Estamos preparados para os dias bons, os dias de alegrias, mas a vida se apresenta em curvas. Nem todos os dias estaremos felizes, com emoções positivas e tudo bem. Também não planejamos nossas vidas esperando que os erros aconteçam. As pessoas não se casam esperando a separação, não entram na faculdade esperando sair no meio do curso. E ainda assim, muitas coisas podem mudar o percurso.

E o que fez a diferença para aqueles que deram certo, mesmo com poucas possibilidades? A motivação e a constância são dois fatores essenciais para a vida. Talvez agora você não consiga visualizar os benefícios delas, mas sem elas, podemos passar o restante da vida da mesma forma e caminhando nas mesmas estradas.

Motivação é olhar além, saber o que deseja e aonde você gostaria de chegar, de estar. Começar algo que deseja, acolhendo o processo, mas também analisando o futuro, quem você quer se tornar. Fazendo o que precisa ser feito, mesmo sem a força de vontade em alguns dias. A constância é o mais difícil, porque nenhum hábito se forma facilmente. É preciso se organizar para fazer um pouco a cada dia. Entre o perfeito e o não feito, escolha um meio termo que te permita escrever uma nova história.

No livro Se eu pudesse viver minha vida novamente..., Rubem Alves deixa uma lição sobre a própria vida, que vale a pena deixar que esse quote reverbere em você: “Cheguei onde estou por caminhos que não planejei. É um lugar feliz com o qual nunca sonhei.” Permita-se buscar a motivação e a constância que te permitirão escrever uma nova história, ainda que por caminhos não planejados...

Lembrando que nenhuma dessas orientações substitui a psicoterapia e que trilhar o caminho do processo terapêutico pode te ajudar na construção do seu propósito de vida, contribuindo para o seu crescimento pessoal.

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Com carinho.

Thalita Gonçalves.